quinta-feira, 28 de fevereiro de 2013

Gosto de desgostos musicais



Vez ou outra conversando com amigos, este novo velho assunto sempre surge: o que faz uma pessoa ter bom ou mau gosto musical?

Eu não vou discutir aqui o que é um bom gosto musical, afinal, isso pra mim está muito bem definido. O que tenho interesse em saber é como esse bom gosto se dá, como ele acontece.

Minha opinião, como sempre, diverge da opinião de algumas pessoas. Aliás, até concordamos que o tempo nos presenteia com maturidade, e em algumas vezes, isso gera um gosto mais apurado pra tudo, inclusive para a música. Eu, quando criança e adolescente já escutava MPB, mas não era muito a minha onda. Curtia de verdade os pagodes do momento e axés, daqueles bem veiculados pela mídia, bem pegajosos, com o ritmo bem repetitivo. O máximo que eu alcançava de sabedoria me fazia escutar algumas bandas de pop rock. Sertanejo eu nunca gostei mesmo. Contudo com o passar do tempo, não suportava mais pagode e axé, e daquele gosto juvenil sobrou apenas as bandas de pop e rock como Legião, Engenheiros, The Cramberies, Nirvana, Titãs, Kid Abelha, etc.

O fato é que eu cresci numa casa onde todos tinham um bom gosto musical, então pra mim foi fácil herdar esse bom gosto. Quando passei da fase adolescente que é divertido curtir qualquer porcaria, passei a buscar meus próprios gostos e escolhas musicais dentro daquilo que soava bem aos meus ouvidos. Então, continuei minha apreciação precoce pelo Milton, passei a escutar os vinis de Chico, Elis, Gal e Gonzaguinha da minha mãe e fui conhecendo Edu, Tom Jobim, Toquinho, Vinícius, Caetano, etc. Influência do meio? Sim, claro. Escolha própria? Sim, claro. Hoje eu gosto de compositores e cantores que meus pais não gostam, eu fiz minhas próprias escolhas, baseada naquilo que me foi apresentado em casa.
Eu creio que passada a fase “eu gosto de porcarias” e chegada à fase adulta “eu preciso conhecer algo melhor”, a pessoa que continua gostando de “porcarias”, possui muita falta de iniciativa. Ou então nasceu para consumir merdas. Dizer que a mídia ou qualquer outra forma veicular impõe “lixo musical” e cultural ao povo, é sobrecarregar muito um lado só. Tudo bem que há algum tempo atrás encontrar coisas boas acessíveis era muito complicado, mas, hoje em dia, não é mais. Não que esteja na mídia toda hora, mas já temos grandes evoluções. Um canal em TV aberta onde se passa APENAS bons programas, rádios (3 ou 4) que se dedica apresentar boa música, novos talentos realmente expressivos e todo o nosso passado musical cheio de gênios eternos. A mídia empurra lixo? Sim, mas também come porcaria quem quer e as coisas boas estão ai circulando também e nem precisa ser rico para escutar uma rádio FM e sintonizar numa boa estação. Além disso, hoje em dia temos programações culturais gratuitas, de teatro de rua, grupos de rua, de poesia, música, enfim, de tudo quanto é tipo de arte. Sem falar aqui de exposições culturais, cursos e palestras acessíveis a qualquer pessoa que queira, e olhe só, de graça. Como saber? Até no jornal popular de R$0,25 (que todo mundo compra) possui esse tipo de informação cultural. Então, podemos culpar apenas a mídia? Acredito que não.

Não posso deixar de dizer aqui que eu acredito piamente que existam pessoas que não nasceram para o bom gosto. E sobre isso, não tenho nada para explicar.

Concluo apenas que, uma pessoa que nunca ouviu falar de Chico, Milton, Tom ou Vinícius, não teve em casa uma boa educação musical. Portanto, terá mais dificuldade em gostar daquilo que, a meu ver, é bom. Mas também não é uma pedra perdida. Família influência, mas amigos também, escola também. Aonde tem boa música há chance de termos uma salvação musical.

segunda-feira, 25 de fevereiro de 2013

Idade X Maturidade


Há pouco tempo tive uma discussão no facebook sobre idade X maturidade. Isso deu “pano pra manga”. E hoje resolvi escrever um pouco da minha velha opinião sobre o assunto. Algumas pessoas acreditam, talvez por falta de vivência, que a maturidade não tem NADA haver com a idade. Bem, eu até acredito que a idade nem sempre determina o grau de maturidade de uma pessoa, mas ai dizer que idade e maturidade não se relacionam, é bem fantasioso.

Um indivíduo de 10 anos viveu muito pouco para poder ter tido algumas experiências, que infelizmente - ou não - apenas o passar dos anos é capaz de oferecer. Por exemplo, na discussão do face, foi falado sobre a possibilidade de uma menina de 13 anos  viver um grande amor e foi dito ainda uma frase de senso comum: “para o amor não há idade”. Me desculpem as “novinhas”, mas, apesar de hoje em dia algumas meninas de 13 anos serem até mães, elas não tem condições de compreender o amor e suas artimanhas. Eu com quase 30 não tenho. Amor tem idade sim! Não determinada por números, mas determinada por vivência, por maldade, por maturidade, por convivência, por observação da vida, coisas que uma menina de 13 anos, não pode ter vivido com constância e plenitude.

Dizer que uma pessoa de 30 anos pode ser menos madura que uma de 13, é bem estranho. Conheço “N” pessoas de 30 anos infantis e infantilizadas, mas apesar disso, elas (em sua maioria) já trabalharam, algumas já se casaram, outras já se separaram, outras são pais, outras já tiveram doenças ou sofreram coisas terríveis. Matematicamente falando, uma pessoa de 30 anos viveu mais que o dobro de uma criança de 13, sendo assim, não há como me convencer que a de 30 anos tem menos qualquer coisa (relacionado a experiência e maturidade) que a de 13 anos.

Se uma criança de 13 já trabalhou, já é mãe ou pai, já se casou, já se separou, etc, não acredito que ela se tornou madura. Acredito que ela será um adulto problemático, afetado, pois, não tinha idade suficiente para viver tudo o que já viveu. Psicologicamente falando, crianças de 12, 13, 14 anos não tem capacidade para suportar certas pressões que a mente de um adulto consegue. É algo da própria evolução cerebral.  Mães adolescentes não possuem condições de serem mães, e ponto. Mas ainda assim são... por pura teimosia.
Então, idade e maturidade possui uma enorme relação...  E é óbvio que existem meninos de 17 mais maduros que alguns de 20, mas isso se explica pela pouca diferença de vivência existente entre eles. Obviamente quando trata-se de poucos anos, isso ocorre, e muito. Mas realmente não podemos imaginar que um adolescente possa ser mais maduro que um adulto de 30 ou de 40 anos; por menor que seja a experiência desse sujeito adulto. É claro, pelo menos para mim, que algumas experiências só são possíveis com o passar dos anos.

Afinal, quando eu tinha 13 anos eu “amei”... “Amei” tanto que achei que o fora que eu levei seria o fim da minha vida amorosa e que eu jamais iria “amar” mais ninguém. Eu daria tudo para “aquele” amor, mas não era capaz de amar a mim mesma. É, realmente, eu não tinha idade para o amor.

Para concluir, existe um outro pensamento de senso comum que faz muito mais sentido para mim... “Cada idade tem o seu prazer e sua dor... e claro, seu grau de maturidade”. 

quarta-feira, 20 de fevereiro de 2013

Poligamia


Depois de muito viver, Andréia havia cometido um único erro grave: apaixonou-se perdidamente. Antes era uma mulher astuta, possuía senso de medida, sabia a hora de ir e a hora de ficar. Mas depois que a paixão invadiu a sua alma, corroeu os seus ossos e manipulou a sua carne, Andréia, na culminância dos seus trinta e um anos deixou-se de vez. Ele, oito anos mais moço, não possuía muito na vida, nem mesmo dignidade, mas era puro convencimento. As charlas de amor eterno que recitava ao pé do ouvido de Andréia, foram cuidadosamente selecionadas nas cenas de filmes românticos que ele via quando ainda era adolescente e intimamente desejava ser o herói.

Enquanto Andréia esperava inquieta a ligação de sexta feira a noite, ele passava na casa de Solange para que eles fossem ao cinema, na sessão das 21h. Depois do cinema um jantar, depois do jantar um motel, depois do motel o restante da madrugada fria e escura açoitando os pensamentos de Solange, que curiosamente, naquela altura dos acontecimentos, estava perdidamente apaixonada por ele.
Solange, ainda nova, não vivera grandes maldades, seu coração ainda cheio de esperanças apenas desejava viver o grande amor. Um desejo infindo, uma vontade lasciva de se entregar ao corpo do outro, ao desejo do outro. Solange era submissa, era daquelas mulheres inseguras que só podia deixar-se fazer a vontade que lhe fosse determinada.

Andréia adormeceu em cólera. Seus dentes rangiam durante a noite e os pesadelos tomavam conta de seu travesseiro. De manhã, bem cedo, o telefone com o toque especialmente escolhido para as ligações dele, toca.
- Desculpe não ter te ligado ontem...
Disse a voz cansada do outro lado. Depois de respirar profundamente Andréia perguntou:
- Aconteceu alguma coisa? Fiquei te esperando... Acabei dormindo. Tive pesadelos horríveis. Estou com saudade.
O suspiro angustiado rebateu:
- Se você soubesse a noite que tive... Minha mãe é doente, coitadinha. Teve uma crise grave esta noite, então, tive que ir com ela urgentemente ao hospital, ficou a madrugada toda em observação, somente agora foi liberada. Pobre mamãe. No entanto, eu pensei cada minuto em você, queria tanto que você estivesse ao meu lado. Mas antes que me pergunte por que eu não te liguei, já te digo que, na correria da hora de sair, deixei meu celular na cabeceira da cama e fiquei sem ter como me comunicar.
- Oh meu Deus. Sinto Muito. O que a sua mãe tem? Ela está melhor?
- Reumatismo. Isso, reumatismo! Está melhor sim, mas sabe como é né? Sente muitas dores, queixa-se demais, preciso sempre estar em alerta. Nunca se sabe quando ela vai precisar de mim. Mamãe só tem a mim.
- Entendo meu amor. Se eu puder ajudar não hesite em me falar. Sabe que você pode contar sempre comigo.
- Sei sim.
- E hoje? Vamos sair? Encontrar-nos? Estou com tanta saudade...
- Oh meu amor, claro que vamos. Preciso apenas descansar um pouco, minha noite foi longa. Assim que eu acordar te ligo para te buscar. Não esqueça de que te amo demais.

Solange, igualmente cansada, dormia em seu quarto onde a cortina tampava totalmente a luz do dia. Sua noite tinha sido longa. Depois de quatro horas e meia, quando acordou, tomou seu banho e se preparava para um novo jantar. O telefone não saia de seu alcance e a música não podia se exceder no volume, que era para não sobrepor o toque do celular, que possuía uma música que fora especialmente escolhida para as ligações dele. As horas passavam e Solange esperava.

Andréia foi ao salão, pintou as unhas, arrumou o cabelo. Ele finalmente ligou marcando a hora para pegá-la, às 20h30minh. Quando se encontraram Andréia não sabia qual era a programação, mas ele já tinha preparado tudo, cuidadosamente. Foram ao cinema na sessão das 21h. Depois do cinema um jantar, depois do jantar um motel, depois do motel o restante da madrugada fria e escura açoitando os pensamentos de Andréia.

Solange já havia adormecido, em cólera. Seus dentes rangiam, teve pesadelos. Quando pela manhã seu celular tocou e ele com a voz seguramente cansada disse:
- Desculpe não ter te ligado ontem...
Por casualidade do destino, a mãe dele, coitada, havia se adoentado, novamente, e ele tivera que passar toda a madrugada no hospital. Estava cansado e apesar da mãe ter sido liberada, tratava-se de reumatismo, ela sentia dores. Ele precisaria estar em alerta, afinal, a mãe só tinha a ele e nunca se sabe quando ela precisaria dele.
Solange, solidária, ofereceu seus préstimos e toda sua boa vontade. Queria revê-lo, era justo depois de uma noite sem notícia.
Ele prometeu:
- Preciso apenas descansar um pouco, minha noite foi longa. Assim que eu acordar te ligo para te buscar. Não esqueça de que te amo demais.

Andréia esperava. Solange aguardava e ele zombava delas, do amor e do destino amigo, que era o seu cúmplice.

Após várias noites driblando a ingenuidade de Solange e a vivencia de Andréia, Solange descobriu que existia a Andréia e Andréia descobriu que existia a Solange. Lágrimas escorreram pelas  faces coradas de tristeza e ódio. Andréia e Solange trocaram farpas, tocaram nas feridas fundas de toda mulher, humilharam-se em público. Ele não se corou, mas ligou para Andréia implorando por um encontro, uma última conversa, disse que queria lhe explicar tudo. Pedir perdão. Resignada, Andréia atendeu ao pedido trêmulo, sincero e os instintos mais primitivos do seu coração. Foi ao encontro do amor. Sim, ainda que perdido, ainda era amor.
- Preciso lhe dizer meu amor... A Solange é problemática, me persegue, me atormenta a vida, me ameaça... Tenho pena dela. Mas é você quem eu amo. Me da uma chance de te provar? Prometo dar um fim nisso e poderemos ser felizes.
Andréia emocionada e confusa hesitou, mas não pode com os argumentos arrependidos e sinceros do seu amado. Era amor. Então, perdoou. Então recomeçou.

Na manhã seguinte ligou para Solange, implorou um encontro...
Resignada...
- Mas é você quem eu amo.
Solange, emocionada e confusa hesitou, mas não pode com os argumentos arrependidos e sinceros do seu amado. Então perdoou. Então recomeçou.
E então, recomeçaram.

segunda-feira, 18 de fevereiro de 2013

Quem quer ser professor?

Ser professor no Brasil é travar uma eterna luta entre o bem dos outros e o nosso próprio bem. Quando escolhemos uma profissão levamos em consideração vários aspectos e um dos fatores de maior relevância é o rendimento financeiro que essa profissão poderá te proporcionar. Contudo, quando o indivíduo escolhe ser professor, ele abraça juntamente com essa escolha a certeza de eterna pobreza. Escolher ser professor é quase como escolher ser padre, você precisa fazer votos, dentre esses votos inclui o inquestionável e o mais necessário: o voto de pobreza.
Não é por acaso que nos tempos atuais os jovens, em sua maioria, passam longe dos cursos de licenciatura. Os cursos de Letras, Matemática, Química, Física, História e Geografia estão destinados a fechar as suas portas por falta de estudantes, as faculdades particulares já não fazem mais vestibular para os cursos de licenciatura, não há inscritos, não há procura, não há lucro. Quem em sã consciência optaria por ser professor no Brasil? Apenas alguns poucos loucos... Loucos que mesmo sabendo do salário defasado, das condições de trabalho precárias, da desvalorização da educação e do profundo desrespeito das autoridades e da sociedade por essa profissão, optaram por serem professores. No entanto, ainda que se tenha feito essa opção, não assinamos nenhum termo de conformação com a atual condição da educação no país e tampouco fizemos voto de pobreza perante Deus ou perante os homens. Por isso ainda há luta. Ao contrário dos padres, o professor não possui casa paroquial e nem recebe dízimo de seus “fieis” alunos. O professor possui necessidades básicas, mas não é sustentado pelo Estado ou Município.
Professor precisa ser mestre, ser gênio, encara salas de aula lotadas, desinteresse e desrespeito dos alunos, a falta de material adequado. É um dos poucos profissionais que leva pilhas de serviços para casa, além disso, precisa se atualizar, fazer cursos, pensar numa forma ou numa fórmula de prender a atenção do aluno e claro, aprender a viver com o mínimo que lhe é oferecido.
Você optaria por ser professor? Pense bem! Claro que não... Não há como pensar em se desfazer do conforto de sua casa própria, do seu carro do ano, do seu salário confortável e de suas viagens periódicas. Como manteria esse padrão de vida sendo apenas mais um professor? Não manteria e não alcançaria tal conforto.
Eu apenas quero que as pessoas entendam que antes de amar ser professora, eu também sonho tem ter bens materiais e sonho com uma vida confortável. Apesar de conhecer as atuais condições da profissão, não me conformo com ela e possuo o direito e o dever de lutar para que haja melhoria salarial para a categoria, até mesmo para que futuramente a carreira de professor possa ser novamente idealizada pelos jovens.
É realmente lamentável perceber que a sociedade reafirma a ideia de que professor tem que aceitar calado tudo o que lhe é imposto, que professor tem que trabalhar por amor apenas, que professor que não está satisfeito deve procurar outra coisa para fazer. A carreira do professor está falida e talvez quando não existirem mais esse profissional, a sociedade passe a valorizar e respeitar a papel do educador na sociedade.

domingo, 17 de fevereiro de 2013

Apartamento


- Oi, nossa, como você está sumida!
- Pois é, é a correria. Mas você também nunca mais apareceu.
- Há, sabe como é... A gente nunca para né? Trabalho, casa, marido, filhos...
- Hi, sei como é isso. Por aqui também estamos numa correria danada. E as novidades?
- Não tenho. Nada de novo. A vida está na mesma, estou trabalhando muito... E você? O que me conta de novo?
- Nada também, o mesmo de sempre. Trabalho, faculdade, namoro...
- E sua mãe está bem?
- Está sim, graças a Deus. E os meninos?
- Há, cada dia mais lindos, levados que só vendo. Passo aperto com eles. São muito espertos.
- Faço idéia!... Bem, eu deixei uma pizza assando no forno, vou lá olhar.
- Tudo bem, eu vou ficar aqui e acabar de limpar a janela. Vê se não some vizinha!