Vez ou outra conversando com amigos, este novo velho
assunto sempre surge: o que faz uma pessoa ter bom ou mau gosto musical?
Eu não vou discutir aqui o que é um bom gosto musical,
afinal, isso pra mim está muito bem definido. O que tenho interesse em saber é
como esse bom gosto se dá, como ele acontece.
Minha opinião, como sempre, diverge da opinião de
algumas pessoas. Aliás, até concordamos que o tempo nos presenteia com
maturidade, e em algumas vezes, isso gera um gosto mais apurado pra tudo,
inclusive para a música. Eu, quando criança e adolescente já escutava MPB, mas
não era muito a minha onda. Curtia de verdade os pagodes do momento e axés,
daqueles bem veiculados pela mídia, bem pegajosos, com o ritmo bem repetitivo.
O máximo que eu alcançava de sabedoria me fazia escutar algumas bandas de pop
rock. Sertanejo eu nunca gostei mesmo. Contudo com o passar do tempo, não
suportava mais pagode e axé, e daquele gosto juvenil sobrou apenas as bandas de
pop e rock como Legião, Engenheiros, The Cramberies, Nirvana, Titãs, Kid
Abelha, etc.
O fato é que eu cresci numa casa onde todos tinham um bom
gosto musical, então pra mim foi fácil herdar esse bom gosto. Quando passei da
fase adolescente que é divertido curtir qualquer porcaria, passei a buscar meus
próprios gostos e escolhas musicais dentro daquilo que soava bem aos meus ouvidos.
Então, continuei minha apreciação precoce pelo Milton, passei a escutar os
vinis de Chico, Elis, Gal e Gonzaguinha da minha mãe e fui conhecendo Edu, Tom
Jobim, Toquinho, Vinícius, Caetano, etc. Influência do meio? Sim, claro.
Escolha própria? Sim, claro. Hoje eu gosto de compositores e cantores que meus
pais não gostam, eu fiz minhas próprias escolhas, baseada naquilo que me foi
apresentado em casa.
Eu creio que passada a fase “eu gosto de porcarias” e
chegada à fase adulta “eu preciso conhecer algo melhor”, a pessoa que continua
gostando de “porcarias”, possui muita falta de iniciativa. Ou então nasceu
para consumir merdas. Dizer que a mídia ou qualquer outra forma veicular
impõe “lixo musical” e cultural ao povo, é sobrecarregar muito um lado só. Tudo
bem que há algum tempo atrás encontrar coisas boas acessíveis era muito
complicado, mas, hoje em dia, não é mais. Não que esteja na mídia toda hora,
mas já temos grandes evoluções. Um canal em TV aberta onde se passa APENAS bons
programas, rádios (3 ou 4) que se dedica apresentar boa música, novos talentos
realmente expressivos e todo o nosso passado musical cheio de gênios eternos. A
mídia empurra lixo? Sim, mas também come porcaria quem quer e as coisas boas
estão ai circulando também e nem precisa ser rico para escutar uma rádio FM e
sintonizar numa boa estação. Além disso, hoje em dia temos programações
culturais gratuitas, de teatro de rua, grupos de rua, de poesia, música, enfim,
de tudo quanto é tipo de arte. Sem falar aqui de exposições culturais, cursos e
palestras acessíveis a qualquer pessoa que queira, e olhe só, de graça. Como
saber? Até no jornal popular de R$0,25 (que todo mundo compra) possui esse tipo
de informação cultural. Então, podemos culpar apenas a mídia? Acredito que não.
Não posso deixar de dizer aqui que eu acredito piamente
que existam pessoas que não nasceram para o bom gosto. E sobre isso, não tenho
nada para explicar.
Concluo apenas que, uma pessoa que nunca ouviu falar de
Chico, Milton, Tom ou Vinícius, não teve em casa uma boa educação musical.
Portanto, terá mais dificuldade em gostar daquilo que, a meu ver, é bom. Mas
também não é uma pedra perdida. Família influência, mas amigos também, escola
também. Aonde tem boa música há chance de termos uma salvação musical.